É a lama, é a lama : Águas de Janeiro, num país enlameado

brumado07_ricardo stuckertFoto : Ricardo Stuckert

É a lama, é a lama : Águas de Janeiro, num país enlameado

Brumadinho : A tragédia de um país enlameado pelos abutres-vampiros da mineração

A última contagem de vítimas desta tragédia ocorrida a 25 de Janeiro, no município de Brumadinho, a 65 Km da capital do Estado de Minas Gerais (MG) – Belo Horizonte – foi de 121 mortos e 226 desaparecidos. O desastre aconteceu quando a barragem da mina de ferro de « Córrego do Feijão », que continha lamas provenientes de rejeitos/resíduos das actividades mineiras, colapsou, provocando uma enxurrada de 12 milhões de metros cúbicos (m³). Esta sopa densa e viscosa, constituída por lamas tóxicas, ricas em metais pesados e compostos utilizados no processo de beneficiação industrial dos minérios de ferro (reagentes diversos, éter,…), levou tudo pela frente, incluindo uma ponte ferroviária, desaguando no rio Paraopeba, um afluente do rio São Francisco, um dos maiores cursos de água do Brasil e que atravessa 5 Estados brasileiros.

O responsável maior : A empresa de mineração « Vale S.A.» é o resultado de uma privatização parcial da empresa estatal, implementada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997, que « vendeu » a companhia « ao preço da uva mijona » ; aliás, comprada pelo banqueiro/empresário Benjamin Steinbruch, com dinheiro oferecido pelo Banco estatal BNDES. Criada por Getúlio Vargas em1942, chamava-se então « Companhia do Vale do Rio Doce » (CVRD). Hoje em dia, é uma empresa mineira transnacional que opera na América Latina, estando presente em Moçambique, Angola e Guiné. Está também no 5° lugar das empresas mais irresponsáveis do mundo, do ponto de vista ambiental e social. A companhia está envolvida em casos suspeitos no Brasil, Chile, Colômbia e Peru e é acusada de causar sérios impactos ambientais e sociais, nos países africanos onde opera. Em Janeiro de 2012, recebeu o prémio da « pior empresa do mundo em direitos Humanos e meio ambiente », também chamado o « Óscar da Vergonha », atribuído pelo « Public Eye People’s », organizado pelas ONG’s « Greenpeace » e « Declaração de Berna ».

Como não podia deixar de ser, a « Vale » é o tipo de empresa criminosa, do género mutante, entre um vampiro e um abutre, que suga o máximo de recursos, maximizando lucros e distribuindo gordos dividendos aos accionistas, em detrimento de salários e de protecção social e ambiental.

O facto de que « as pessoas contam » para a companhia, é o dos escritórios, a enfermaria e o refeitório da empresa terem sido construídos na parte de baixo da barragem. O colapso deu-se à hora do almoço ! Segundo relatos da população, as sirenes de alarme não soaram neste dia fatídico. Sirenes nunca antes testadas, presentes « só para cumprir a legislação». Testemunhos de voluntários nas buscas de vítimas, afirmam que parte do material necessário para efectuar as operações de socorro, não chegou ao local da tragédia prontamente, devido à filtragem da empresa « Vale » na zona do sinistro, de forma a controlar tudo o que se passa, inclusivé, a informação que os média oficiais podem divulgar. Exemplos de má fé da empresa ; é o de afirmar que a torrente de lama foi rápida demais, impedindo assim as sirenes de funcionar ; e de tentar passar a mensagem de que este tipo de acidente foi uma catástrofe natural.

Não é preciso ser especialista para estimar que a causa provável do colapso se deveu à falta de controle e fiscalização da estrutura. É legítimo apontar aos dirigentes desta empresa e aos organismos que deveriam controlar as suas actividades, a responsabilidade deste gravíssimo acto criminoso. A prova de que essa gente vai ficar impune, é o desprezo com que tratam as famílias das vítimas deste ignóbil crime. Ora vejamos : a « Vale S.A.», grande grupo multinacional de mineração mundial (que os telejornais franceses apelidaram de « empresa mineira », sem a nomear), com 70 mil empregados, maior exportador mundial de minério de ferro do mundo, vangloreia-se de oferecer (R$)100 mil reais = 23 615 euros, a cada família com vítima, nesta tragédia horrenda, afirmando em campanhas publicitárias, que « a prioridade são as pessoas » !? Será que esta elite dirigente, cínica e impune, sente que está a oferecer mais do que ela estima ser o valor de uma Vida Humana ?

O presidente da « Vale », Fabio Schvartsman aufere 1,6 milhões de reais mensais (378 mil euros), mais ou menos cerca de 4,5 milhões de euros anuais !!! Cada um dos outros 5 directores da companhia, aufere cerca de 236 mil euros por mês. Para esta malta sangue-suga, uma vida vale então 6% de um mês de salário do « boss ». Com gente desta, como é que havemos de salvar o Planeta ? Como é que que podemos salvar-nos, a nós de um fim escabroso, como o das vítimas de Brumadinho ?

Precedente : a 5 de Novembro de 2015, deu-se o colapso da barragem de rejeitos do Fundão, no município de Mariana (MG), propriedade da « Vale S.A » e do mega-grupo anglo-australiano BHP-Billiton. A tragédia (mais uma) de Mariana, foi o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental do Brasil e o maior desastre ambiental mundial envolvendo rejeitos, com o vazamento de 62 milhões m³ de entulho sujo, tóxico…lamacento

Estará a governação do Brasil entregue a um verdadeiro gang, a uma quadrilha de bandidos ?

Adriano Magalhães da Nóbrega, um ex-capitão da BOPE – Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro – é um dos foragidos, suspeitos do assassínio da vereadora carioca, Marielle Franco do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL – e do seu motorista Anderson Pedro Gomes, no dia 14 de Março de 2018. Alguns destes suspeitos foragidos, foram mesmo homenageados por Carlos e Flávio Bolsonaro. A mãe e a esposa do ex-operacional da BOPE, trabalhavam no gabinete do deputado federal (recentemente eleito senador) Flávio Bolsonaro, filho do actual presidente da República Federativa do Brasil, o Jair. Segundo um relatório da Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras –, a mãe do ex-BOPE, Raimunda Veras Magalhães, era uma das pessoas que fazia depósitos na conta de Fabrício Queiroz, o ex-assessor e ex-motorista de Flávio Bolsonaro, elo central no caso « Bolsogate ». Fabrício Queiroz seria o testa de ferro da família Bolsonaro, a ponte entre o mundo do crime organizado e a casta Bolsonaro.

Marielle Franco, cuja popularidade crescia a « olhos vistos », defendia vigorosamente uma mudança profunda da sociedade brasileira, baseada na militância das franjas excluídas e maioritárias do Povo Brasileiro. Ela era um dos maiores porta-estandartes dos debates sobre o género sexual, a negritude, a exclusão social, a pobreza e promovia de forma entusiástica, a acção militante do Povo das favelas, das quais ela fazia parte integrante. Ela teria sido uma excelente Presidente, de um Brasil moderno e um modelo de inspiração progressista para todo o Planeta !

O episódio deprimente do triste funeral de Vavá, o irmão do Lula

A Constituição brasileira garante a qualquer « preso em regime fechado », permissão para saír, mediante escolta, no caso de falecimento ou doença grave de cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão (Artigo 121 da Lei de Execução Penal). A Polícia Federal (PF) e o ministro Sérgio Moro, tudo fizeram para que este princípio básico, comum em qualquer estado de direito, não fosse aplicado ontem, ao cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. A juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal de Lula, esqueceu-se de aplicar a Constituição. Uma das razões seria a de que o helicóptero que deveria transportar Lula, estaria ainda resgatando vítimas na lama tóxica de Brumadinho. Na minha opinião, as razões foram outras : para além de quererem infligir ao Lula, uma pesada humilhação, com o intuito de o desmoralizar e deprimir ainda mais no seu cárcere, o facto é que a elite brasileira e os seus vassalos da PF, STF e MP – Ministério Público –, tiveram medo de uma mega manifestação de apoio popular a Lula.

Precedente : durante a ditadura militar em 1980, o prisioneiro Lula da Silva, pôde velar a sua falecida mãe.

Finalmente, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, concedeu o direito a Lula, de assistir ao enterro de seu irmão, Vavá – Genival Inácio da Silva – um quarto de hora antes do funeral – 334 Km em linha recta, de Curitiba (PR) a São Bernardo do Campo (SP). Lula agradeceu, mas recusou. Ele percebeu que à volta desta súbita clemência (um princípio elementar da Constituição brasileira), estaria uma encenação de um show mediático, à volta da sua viagem heliportada, com sua chegada a uma caserna militar, para aí se reunir com a sua família – não chegava a dor de enterrar um ente querido, ainda tinham de suportar um confinamento, olhos nos olhos, numa espécie de prisão em grupo…em família. Lama do princípio até ao fim. Lama mesmo !

Para que a prisão arbitrária de Lula termine, é preciso lutar. Por tudo o que o Lula fez pelo Povo Brasileiro, como Estadista respeitado em todo o Planeta, progressista da concórdia, Paz e desenvolvimento dos Povos, assinemos a petição #NobelparaLula – já assinaram a petição, mais de 600 mil cidadãos do Mundo. Com a sua assinatura chegaremos rapidamente ao milhão !

capa fb fra

Canal musical de Paulo Correia, aqui !


Upgrade do artigo em francês, aqui : https://www.investigaction.net/fr/le-bresil-est-dans-la-boue/

https://www.mondialisation.ca/le-crime-environnemental-de-brumadinho-la-tragedie-boueuse-et-laction-des-vautours-vampires-de-lindustrie-extractive/5630742

http://newsnet.fr/151809

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